É interessante a jornada da cidadania italiana, porque nos colocamos no papel de investigadores da nossa própria família. Na busca de documentos e informações, descobrimos coisas muito interessantes sobre a vida dos nossos antepassados. Creio que isso nos faça valorizar ainda mais minhas raízes, valores, em fim nossa criação.
Alberto Grossi, é o avô do meu avô, ou seja, meu trisavô. Ele nasceu na cidade em Vinchiana, que é uma localidade, na provincia e cidade de Lucca. Naquela época, 1841, a Itália não era ainda um Estado unido, o que aconteceu somente em 1870. O Risorgimento, como se chama o movimento.
Em 1861, quando Alberto foi para o Brasil, a Itália estava no meio destas batalhas. Vittorio Emanuele (rei de Piemonte) conquistou a Toscana, Lombardia e parte da Emiglia Romana, proclamando o Reino da Itália. Não fazia parte deste a região nosdeste, incluindo o Veneto, em poder dos austriacos, e onde hoje é a província de Roma.
Imagino o que poderia estar se passando na Toscana, com a República de Roma ao sul e as batalhas com os austríacos ao norte. A pobreza, morte, e a fome, que os italianos comuns enfretavam, os fazia encarar o Atlântico com destino a América.
Alberto era o terceiro irmão dentre os oito filhos de Giuseppe Grossi e Luvisa (Luisa) Pieri Grossi. Eram seus irmãos: Atílio (1838), Gustavo (1839), Romualdo (1843), Domingos (1853), João (?), Rachel (1850) e Guilherme (1856). Com excessão de Rachel, todos os irmãos foram morar e trabalhar com o Alberto, depois que ele estava estabelecido. O único que retornou a Itália e morreu em Ponte a Moriano, foi Atílio. Nesta cidade se casou e construiu uma casa denominada “Vila Grossi”, que ainda não conheço.
Partiu do porto de Genova, com o passaporte número 2041, de 10 de maio de 1861, emitido pelo Papa Pio IX (veja só) e chegou no Rio de Janeiro. Foi morar e trabalhar na Fazenda Fábrica Nova, onde é hoje a cidade de Camargos MG. Casou-se em 28 de julho de 1866 com Guilhermina Olympia de Souza, na paróquia N.S. de Camargos, arquidiocese de Mariana. O casamento dele teve o registro anagráfico feito pelo Consulado de Belo Horizonte e pode ser pego na Comune de Lucca.
Alberto e Guilhermina, pelo que se sabe, tiveram 13 filhos: Francisco de Sales Grossi (1870), Luiza Grossi, Jovelina Grossi, Maria Augusta Grossi, Ambrozina Grossi, João Grossi, Joaquim Grossi, Alberto Grossi Filho, Alsina Grossi, Gustavo Grossi, Olívia Grossi, Rosalina Grossi (que morreu antes completar 1 ano) e meu bisavô, José Párvolo Grossi (30/01/1868).
Como era o primeiro filho, José era chamado de Albertino, dimininutivo de Alberto em italiano. Daí ficou conhecido por José Albertino Grossi, nome que adotou em sua certidão de casamento e em todos os documentos dos seus descendentes. Meu pai se chama José Albertino Grossi Neto, em homenagem ao seu avô.
Em 1865 recebeu seu irmão Atílio e em 1871, ainda com somente os três primeiros filhos, se mudaram com a família para São Caetano do Xopotó, município de Alto do Rio Doce, Minas Gerais. Neste município prosperou, e recebeu seus outros seis irmãos.
Guilhermina morreu em 28/09/1893. Em 1904 Alberto retornou a Itália para rever os parentes e depois de 7 meses de ausência retornou ao Brasil. Veja os registros desta viagem na Itália e no Brasil, abaixo em curiosidades.
Já velho foi morar na ainda então Villa de Merces, Minas Gerais, com uma de suas filhas e o genro Angelo Falco, que apresentou seu falecimento em 11/05/1919. Este registro eu peguei em mãos em dezembro de 2008, já bastante danificado pelos 89 anos e pelas condições de armazenamento. Apresentava marcas de cumpim e mofo, mas uma bela caligrafia de época.
Estas informações foram colhidas pelo Bispo Dom José Nicomedes Grossi, primo do meu avô, e estão em sua auto-biografia. Se interessar, tem inclusive informações dos atos de batismo e casamento, levantados em igrejas italianas. Estes documentos podem ser pegos na Arquidiocese de Lucca, e servem para a cidadania italiana.
CURIOSIDADES:
- Registro do retorno de Alberto Grossi a Vinchiana: “No dia 18 de setembro de 1904, celebrando ‘com devoto aparato’, a festa de Nossa Senhora das Dores na Paróquia de ‘San Hilario di Brancoli’ (Vinchiana, Itália), os amigos e conterrâneos de Alberto Grossi, através das festeiras Maria Caselli e Maria Marraccí, compuseram o seguinte soneto: ‘Benigne madri in questo di correti; Pietosamente a da conforto a questa; Madre del buon Gesú, cotanto mesta; Per la sua morte e seco lei piangete; E certamente voi che madri siete; Ben potete saper quant’e funesta; La doglia de Maria che orbata resta; Del caro figlio e sol di pianto ha sete; L’eletta di Sion gran madre pia; Piange il suo ben, che dal materno seno; Le fu rapito e com barbarie ria; Tratto sul monte trucidato appieno! Madri pensate or voi se di Maria; Sia il cuor trafitto, e d’atro duol ripieno.’”
- Jornal “O Puritano” que se editava na Cidade do Pomba (hoje Rio Pomba), Minas Gerais, n.2 ano II, de 17/11/1904: “Depois de uma ausência de 7 meses, em VINQUIANA, Província Toscana, Reino da Itália, onde fora em visita a sua família e parentes, chegou a esta cidade no dia do corrente, o nosso prezado amigo ALBERTO GROSSI, importante industrial em São Caetano do Chopotó, e um dos cidadãos ali mais considerados e queridos. Bem jovem ainda veio para o Brasil e em 1859 [creio que informação errada] estabeleceu residência em São Gonçalo do Furquim, município de Mariana, onde, pela honradez de seu caráter e dedicação inquebrantável no trabalho, conquistou a estima geral da população, esposando, poucos anos depois, a eleita de seu coração, D. GUILHERMINA OLYMPIA GROSSI, filha de honrada e laboriosa família. Habilíssimo serralheiro e carpinteiro, dotado de admirável tino administrativo, assumiu a direção da propriedade agrícola e de uma fábrica de ferro de grande proprietário ali residente e tão bem soube desempenhar os encargos assumidos que teve sempre no digno proprietário um amigo e protetor desvelado. Em 1865, em sua procura, chegou da Itália, o seu irmão Atílio, que no seu posto de honra foi encontrá-lo, o qual tendo vindo com o fim de conduzí-lo à pátria, a consolar seus velhos e saudosos pais, bem depressa se deixou vencer pelas seduções deste país hospitaleiro que oferecera a seu irmão, como a todos os estrangeiros, todas as prosperidades que usufruia, felicidades que não negaria de certo a ele, honrado e laborioso ~como seu irmão. Associados, trabalharam por alguns anos, sempre felizes e prestigiados, cercados de imensa estima e confiança, até que, em 1871, reconhecendo que São Caetano do Chopotó lhes deparava campo mais vasto a suas reconhecidas atividades, deixando somente amigos na antiga residência, transferiram-se para São Gonçalo do Chopotó, onde estabeleceram-se com uma grande casa de comércio, trabalhando como maquinistas peritos que eram (mecânicos, parece expressão correta), em diversas fazendas, explorando máquinas próprias que montaram. A notícia de que prosperaram de ano para ano, chegou à Itália, aos ouvidos dos pais, sendo-lhes lenitivo às saudades que curtiam, servindo, porém, de incentivo para que outros irmãos, ávidos igualmente da fortuna e bem estar, viessem em demanda do Brasil, onde a felicidade sorri sempre aos que trabalham com honrada e esforçada tenacidade. Assim é que São Caetano do Chopotó foi recebendo, sucessivamente, em suas fertilíssimas terras, ROMUALDO, GUSTAVO, DOMINGOS, GUILHERME, JOÃO GROSSI, que, associados aos DOIS IRMÃOS GROSSI, já ali existentes, solidários todos na prática da moralidade e do trabalho constante, constituiram um padrão de glória para a Colônia Italiana e de justo desvanecimento para o Brasil, sempre pródigo de benéficas prosperidades a homens de tal quilate, gratos ao país que tão generosamente os acolheu, identificados pelo progresso e ao qual amam como à própria pátria. Pomba, 10 de Novembro de 1904.”
- Descrição da fazenda de Alberto Grossi, feita pelo Bispo José Nicomedes Grossi em sua bibliografia: “Meu avô Alberto Grossi, em São Caetano do Chopotó, fez uma barragem de pedras represando as águas do rio Espera, na Rua de Baixo, e construiu um grande engenho de madeira. As águas de uma bica, captadas na represa do Rio Espera, movimentavam uma grande roda de madeira e esta movimentava dois moinhos de fubá e um grande eixo de madeira e este, com orelhas de madeira, movimentava oito mãos de pilão em quatro pilões, duas em cada pilão para socar arroz ou café. Estes, depois de socados, eram levados separadamente em pequenas caixinhas de metal, ligadas em correias de couro e embutidas em uma coluna de madeira até uma bacia de metal. Esta, acionada por correias em movimento de vai-e-vem, separava o café ou arroz pilados do café ou arroz em casca. Todo este conjunto era movimentado pela única grande roda de madeira movida pelas águas da bica captadas na represa do Rio Espera. O milho curtido com água em um grande poço de madeira, situado defronte dos quatro pilões, depois de socados nos pilões, era levado para dois fornos de pedra sabão a fim de se fazer farinha e beijú. Os fornos eram aquecidos com fogo a lenha. O café e o arroz pilados, assim como a farinha, eram vendidos para a população da sede ou da roça de São Caetano do Xopotó e às vezes para tropeiros de outras localidades. Naquela época não existia energia elétrica. No meu arquivo, possuo Xerox dos seguintes recibos: 1) Recebi do Sr. Alberto Grossi a quantia de réis 600$00, seiscentos mil réis de doação que o mesmo Sr. me fez para ajuda do meu casamento com a sua filha Dona Luíza Grossi, quantia esta que em tempo próprio entrarei com ela a collação. São Caetano do Xopotó, 7 de maio de 1892 (assinado) Theopisto Gomes Ferreira.”
Fiquei muito feliz de poder ter acesso a estas informações, que meu pai, José Albertino Grossi Neto, consegiuu agrupar e me enviou aqui a Pisa. As fotos de Giuseppe, Luvisa e Alberto Grossi infelizmente não estão nítidas o suficiente para colocar aqui. Tentarei conseguir uma cópia do livro, para poder ter mais nitidez.